A globalização intensificou-se na última década com a potencialização do sistema de comunicação através de redes sociais, o acesso mais rápido e abrangente pela internet e o desenvolvimento de plataformas digitais. O sistema de informação global foi ampliado e aperfeiçoado e possibilitou a comparação do desempenho das nações através de inúmeros indicadores. O resultado foi uma grande transformação social, política e econômica que impactou as relações pessoais e as transações comerciais. A circulação de ideias, pessoas, mercadorias e capital ao redor do mundo foi acelerada. Redes internacionais de atividades, conhecimento e poder foram criadas.
Compreendera globalização, seus fundamentos e implicações é a chave para reconhecer e responder às pressões do mundo dos negócios e da competitividade entre as nações. O processo resultou num aumento significativo da competitividade global dos países, que é avaliada pelo World Economic Forum (WEF). Segundo a entidade, em 2014 o Brasil estava em 57º lugar, numa lista de 144 países. No ano corrente, caiu para a 81ª posição, entre os 137 países pesquisados. No mesmo relatório, constatamos que as posições dos pilares de ‘Inovação’, ‘Instituições’ e ‘Ambiente macroeconômico’ foram 85ª, 109ª e 124ª, respectivamente.
Outro indicador trágico é a qualidade do ensino superior, classificada em 125º lugar. Mesmo considerando a péssima qualidade de ensino, apenas 9,2% dos 147 milhões cidadãos aptos a votar têm nível superior. No ensino básico, os resultados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), referente ao IDEB de 2017 foram desastrosos. No período de 2015 a 2017, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) do ensino médio ficou praticamente estagnado, evoluindo de 3,7 para apenas 3,8.
O cenário comprova que Educação deve ser o topo das prioridades do país. Entretanto, as ações nesse setor devem compreender, simultaneamente, a melhoria radical do sistema de ensino básico/superior e a criação de um sistema que prepare o aluno para ser inovador e Globally competent (competente globalmente).
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) considerará a competência global nas métricas do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), que ocorrerá este ano. Será composta de duas partes: cognitiva e pesquisa de background. A cognitiva avaliará as capacidades do estudante de analisar os problemas globais, de modo crítico, e de se comunicar em contexto intercultural.
A pesquisa de background vai questionar a familiaridade dos estudantes com os problemas globais e avaliar as habilidades linguística,de comunicação e atitudes de respeito a culturas diversas. Haverá uma pergunta final sobre as oportunidades que eles têm na escola para desenvolver a competência global. As respostas dos alunos e professores proporcionarão um retrato comparativo de como o sistema educacional integra as perspectivas global, internacional e intercultural no currículo e nas atvidades escolares.
Para ser Globally competent (competente globalmente) o aluno precisa desenvolver competências e habilidades em quatro dimensões para: explorar problemas locais, globais e interculturais; compreender e apreciar as perspectivas e visões de mundo de outras pessoas; engajar-se em interações positivas com pessoas de diferentes nacionalidades, etnias, religiões, e experiências social e cultural; e agir construtivamente para o bem comum e desenvolvimento sustentável. As quatro dimensões são interdependentes.
O sistema requer mudança no propósito da educação, que tradicionalmente compreende a preparação das crianças e dos jovens para a vida e carreira. O processo pressupõe que o ecossistema educacional seja concebido para formar agentes de transformação: com consciência global, social e ambiental; curiosos; capazes de pensar criativa, critica e sistemicamente; atuar de modo colaborativo; e fazer perguntas inteligentes; e motivados a aprender sobre o mundo e como ele funciona. Os indivíduos com esse perfil ajudam a influenciar grupos, organizações e sistemas diversos dos deles, atuando com comportamento adequado em contexto multicultural.
O currículo escolar deve ser inter e transdisciplinar, com ênfase no desenvolvimento de projetos que motivem o aprendiz a compreender e explorar o mundo; analisar cenários; comunicar ideias para diversas audiências; e agir/atuar transformando as ideias em ações adequadas para melhorar/solucionar o problema definido. Deve compreender aprendizados que se conectem com os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, aprovado pela Organização das Nações Unidas-ONU, em 2015, em documento denominado Agenda 2030, da qual o Brasil foi signatário, com 193 países.
A Agenda 2030 tem como propósito garantir vida sustentável, pacífica, próspera e equitativa, no planeta terra, para todos, no presente e no futuro. O processo requer que os professores sejam preparados para desenvolver projetos e debates que provoquem reflexões sobre os objetivos da Agenda. Por exemplo, sobre as causas e os fatores que influenciam a pobreza, e como eliminá-la. Estudos de caso sobre a pobreza, em alguns países, e as pesquisas em campo enriquecem o aprendizado. Para haver comprometimento dos alunos e professores com a Agenda 2030, é essencial que eles avaliem continuamente como está o Brasil no cumprimento das metas estabelecidas para o país.
Para realizar essas atividades, os alunos precisam interagir com as redes globais de conhecimento. Assim, poderão buscar as melhores práticas e referências no mundo e colaborar na solução dos problemas globais. É necessário, portanto, que tenham fluência no idoma Inglês. Na pesquisa sobre o nível de proficiência na língua, realizada em 2017 pelo Education First-EF, o Brasil ficou na 41ª posição entre os 80 países avaliados.
A pesquisa indicou ainda que apenas 3% dos brasileiros são fluentes em Inglês. Ou seja, tão somente essa pequena parcela de brasileiros teria a competência para atuar profissionalmente em multinacionais e ser admitida em boas universidades de outros países. As nações mais competitivas e inovadoras do mundo falam Inglês, segundo os relatórios do Fórum Econômico Mundial e do Instituto Europeu de Administração de Empresas (INSEAD).
O cenário atesta que é urgente que o sistema educacional do Brasil se adeque ao propósito de preparar as crianças e os jovens a pensar, agir e interagir além das fronteiras, com as competências e habilidades inerentes a um cidadão competente globalmente. Lamentavelmente, a base curricular recentemente aprovada, ainda para ser implantada, já nasce desatualizada.