Vários indicadores nacionais e mundiais atestam a precariedade do sistema educacional do Brasil, com o consequente prejuízo à produtividade e à competitividade do país. Há casos de instituições de excelência, mas sem reprodução do modelo em escala nacional. Há gargalos em todas as etapas do sistema educacional.
Na pesquisa mais recente, realizada em 2015, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) alcançou a média de 3,7 pontos, numa escala de 0-10, para o ensino médio, considerando as escolas públicas e privadas. Ficou praticamente estagnado desde 2005, quando esse indicador foi 3,4. O ensino médio também é avaliado internacionalmente pelo OECD/PISA. Em 2015, o Brasil ficou na 59ª posição entre os 66 países que participaram do estudo.
A base curricular da educação no Brasil, aprovada há poucas semanas, já nascerá desatualizada. Os países desenvolvidos implantam os currículos com o propósito de formar o cidadão competente globalmente. Isso significa que o indivíduo deve ter competências e habilidades para compreender e atuar em questões com perspectivas globais e participar de redes mundiais de conhecimento. Para que o aluno possa exercer bem as atividades, precisa desenvolver as habilidades do século 21 e dominar outros idiomas, fundamentalmente o Inglês.
O sucesso do processo requer que o centro educacional esteja interconectado com outras instituições nos vários continentes; desenvolva projetos colaborativos; e estimule os alunos a pensar criativa e criticamente, compreender o mundo e discutir problemas globais. O processo pressupõe uma abordagem transdisciplinar, com ênfase em aprendizado através de projetos PBL (Aprendizado Baseado em Projeto).
A base curricular brasileira também manteve o modelo de avaliação para admissão em universidades, o ENEM. O ensino focado em teste merece ser repensado. Nos EUA, país com o melhor sistema de educação superior do mundo, os testes SAT e ACT são um dos requisitos que as universidades consideram para selecionar os estudantes. A admissão em universidades considera um portfólio de realizações do aluno, incluindo trabalhos comunitários.
A cada ano, o World Economic Forum (WEF) elabora um relatório de competitividade. Na mais recente edição (2017-2018), 137países foram pesquisados . A qualidade da educação primária do Brasil ficou na posição 127. As universidades acompanham o baixo nível no cenário educacional brasileiro. De acordo com a pesquisa da Times Higher Education(2018), nenhuma universidade brasileira foi classificada entre as 200 melhores do mundo. No relatório do WEF, o sistema educacional superior do Brasil amargou o 125º lugar, e a qualidade das instituições de pesquisas científicas do país figurou na 77ª posição. Esses indicadores permanecem quase estagnados desde 2007, quando o WEF iniciou a divulgação dos relatórios.
O ensino superior é um capítulo exclusivo a discutir. Entendo que deve fazer parte do Ministério de Ciência e Tecnologia. O ecossistema necessário para o sistema funcionar bem é diferente daquele referente aos ensinos básico e técnico. Para injetar qualidade ao sistema, é importante atrair as melhores universidades do mundo e criar “cidades universitárias de excelência”. A China, o Qatar e os Emirados Árabes adotaram essa estratégia, ao entender que não havia perspectiva, a médio prazo, de ter universidades entre as melhores mundo. Simultaneamente, é necessário preparar nossos alunos para estudarem nas melhores universidades do mundo, com a perspectiva que retornem ao Brasil. A China tem um milhão de estudantes em universidades mundo afora.
Os professores e gestores escolares são formados por um sistema universitário ruim e não possuem, portanto, boa qualificação. É urgente investir na valorização da carreira desses profissionais. Assim, os melhores alunos do ensino básico poderão abraçar essa profissão.
O ensino técnico deve ser reinventado. A que custo mantemos os modelos do sistema “S” e das escolas técnicas federais e estaduais? Há referências extraordinárias no mundo que preparam e motivam o aluno a exercer funções técnicas, inclusive para a indústria criativa. O estudo para a reinvenção do ensino técnico deve verificar quantos alunos com formação técnica, de fato, abraçaram a profissão. O país precisa de bons técnicos. Não há vagas de empregos suficientes para absorver a demanda de universitários formados nas faculdades, que surgem em toda esquina.
Os museus são elos fundamentais do ecossistema educacional. No Brasil, há 3.820 equipamentos cadastrados na plataforma de museus, a maioria carente de manutenção e com acervo muito restrito para o propósito. Comparativamente, os Estados Unidos têm 35 mil museus registrados na Associação Americana de Museus. Em todas as grandes cidades americanas, e até naquelas com médio porte, encontramos museus de artes, ciências e história natural, com educadores e recursos ao dispor das escolas. Nos países desenvolvidos, o cenário se repete. Esse valioso patrimônio está vinculado ao Ministério de Cultura, portanto, independente do Ministério de Educação, o que deve ser reavaliado.
A estrutura organizacional do sistema educacional administra orçamentos bilionários, e está fragmentada nas esferas federal, estadual e municipal. Cada uma dessas células é gerida por pessoas de várias ideologias partidárias. Os ministros, diretores, secretários de Educação e gestores escolares são escolhidos por indicações políticas. O modelo de governança deve ser reinventado. Esse é um tema prioritário em vários países.
A considerar a forma como o sistema educacional brasileiro está concebida e a cultura da ineficiência para realizar as mudanças necessárias, a competitividade global do país piora a cada ano. Em 2017, o Brasil caiu 33 posições no ranking da WEF, se comparado ao relatório de 2012, ficando na 81ª posição. É necessário haver uma revolução com múltiplas ações, realizadas de modo simultâneo, para reverter o quadro. Há soluções exemplares no Brasil e noutros países para todos os problemas.
O conjunto de problemas é complexo e os países competitivos globalmente continuam a avançar e se distanciam cada vez mais do Brasil. As soluções requerem uma diagnose sistêmica, para que seja elaborado um plano estratégico que contemple uma reengenharia no sistema educacional do país. Assim, poderemos acreditar que o país será uma‘Nação Educada’, com um sistema educacional excelente e o propósito de formar cidadãos capazes de competir globalmente, num prazo que a globalização exige.